domingo, 21 de março de 2010

Simplesmente Vanessa

- Meu fim-de-semana começou ruim. Esperava há mais de um mês por uma festa, e nos 45 minutos do segundo tempo, eu não pude ir. Decepcionei, magoei, eu sei, desculpa! Passei minha sexta-feira em um momento de suposta depressão, cheia de pensamentos inúteis, que foi salva apenas por conversas felizes com minhas amigas, e a expectativa para o dia seguinte.

Então, amanheceu. Novo dia, nova rotina. Sábado de nuvens, medo de chuva. Com que roupa eu vou?(Nunca Noel Rosa foi tão feliz numa composição como nessa música.) A tarde seguiu linda, cheia de surpresas maravilhosas. O Simples Café foi palco de mais um encontro da gente. Conversa vai, conversa vem, torta doce vai, refri vem, torta salgada e coxinha também. Voltei para casa. Era hora.
Liguei o chuveiro, e não era mais eu quem estava ali. Uma súbita corrente passou pelo meu corpo, como se me despertasse para um mundo novo, só de alegria, de felicidade. Eu queria sair correndo pela rua, de braços abertos sentindo o vento passando por mim, bagunçando meus cabelos, me deixando com frio. Mas não era possível, eu precisava achar um pouco de concentração para conseguir me arrumar, ficar linda para aquele momento, que eu tinha certeza: seria especial. Mais uma vez, seria inesquecível. A ansiedade era muita, e em apenas 30 minutos, eu estava pronta, e às 18h em ponto liguei e disse: "Tô pronta! Quando tiver saindo, me liga que eu desço!". Na verdade, se pudesse, eu teria virado a noite lá, esperando a hora de começar.
Chegamos e a fila estava na ladeira. Faltavam dez minutos para as 19h, por fora eu sorria, por dentro, um carnaval de nervosismo explodia no meu peito. São nesses momentos que eu me preocupo com o meu histórico genético. Tenho medo de infartar. E quando fomos chegando perto da catraca, as pessoas lá dentro começaram a gritar, e eu, do lado de fora, ficando desesperada. Passei pela catraca, o ritmo começou, e aquela voz linda deslizou no ar da Concha Acústica. Eu ainda tinha um último obstáculo para ultrapassar, a revista, mas acho que a mulher percebeu o meu desespero, e me deixou passar correndo. Quando eu vi aquele lugar lotado, cantando "Vermelho", meus olhos nervosos, procuravam a fonte, que emitia aquela voz linda e contagiante, foi quando eu finalmente, a vi, linda como sempre, surgia e aparecia para mim, de acordo com o movimento das pessoas que estavam em minha frente. Eu podia ficar ali, estava semi-satisfeita, já estava perto, mas não a vi direito.
Fomos caminhando, apertados entre as pessoas que lotavam aquele lugar, e o tornava insuportavelmente quente. Mas eu andava feliz, cantando, na esperança de achar um lugar mais vazio, que eu pudesse "me espalhar" durante o show. Achamos. Do lado esquerdo do palco, um lugarzinho ótimo, mais ou menos vazio, e bem pertinho dela. Eu perdi alguns litros de suor, e na primeira oportunidade, estava simplesmente, na frente dela. E de repente, não mais que de repente, ela caminhou na nossa direção e a tive, bem perto de mim, com toda a sua simpatia, mandando beijos, para nós meros mortais que estavam ali para contemplar sua arte. Eu estava em êxtase total. Era Vanessa da Mata, ali, na minha frente. Eu pulei, gritei, cantei, levantei os braços esquecendo o que aconteceria com o meu vestido caso eu fizesse esse movimento. Me entreguei totalmente àquele momento. Ela é linda demais.
Me deleitei com as músicas, com as participações, até mesmo Malu Magalhães, que cantou "Quando um homem tem uma mangueira no quintal" com sua voz irritante de uma criança de 17 anos. Mariana Aydar, completamente feliz por estar ali, cantando como fã, na verdade. E a grande e incrível Dona Ivone Lara, minha maior emoção na noite. Com sua voz firme de 89 anos, indagou para a Concha Acústica cheia: "foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há?" Tão linda, tão doce, representando para mim muito mais que uma cantora, compositora e mulher forte; foi como ver minha bisavó ali. Precisei respirar fundo para continuar a curtir o momento, e não me entregar às lembranças e me desmanchar em lágrimas.
Vanessa voltou a cantar sozinha, tão única, tão inebriante, apaixonante.
Eu estava completamente entregue, curtindo, cantando as músicas, acompanhando as letras automaticamente. É incrível como eu me deixo levar nessa onda, algo me prende, me leva, me transporta. Não importava mais nada, nem o calor, nem meu braço estar grudando em suor alheio, nem um repentino mau cheiro de cocô vindo do além; nem se meu vestido podia subir, nem se eu tinha aberto todos os botões, eu precisava encontrar mais ar, para viver ali, e eternizar o momento.
Infelizmente, tudo que é bom, acaba rápido. E acabou. Muito rápido, muito cedo. Como manda a tradição, "Ai ai ai" encerrou o primeiro show do Projeto Mulheres Brasileiras, e iniciou a minha expectativa/angústia da dúvida de quando ela vem de novo.

2 comentários:

  1. Amanda, gostei desta crônica descritiva sobre o show de Vanessa da Mata em Salvador, do qual você foi testemunha. Adorei. Ótimo!

    Continue curtindo outros shows que vêm por aí e escreva várias crônicas desse tipo.

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