quarta-feira, 10 de março de 2010

O dia em que as vacas tossiram

- Eu peguei um ônibus. Pode parecer idiota falar isso, sem sentido e não ter nada de gracioso no fato, pelo menos a princípio. A grande relevância da frase está exatamente em quem está afirmando isso: Eu. Não sou rica, não sou o supra sumo de pessoa, nem rainha, nem princesa, sou normal, só não ando de ônibus.
Não tenho carro, não sei dirigir e não ando de táxi, mas não ando de ônibus.
Sou quase um ET, se comparada às pessoas da minha idade que tem a mesma condição que eu, mas é isso mesmo, minha vida é assim, e eu tenho alguns privilégios, as pessoas têm cuidado excessivo comigo, em prolongar a minha existência, eu não me envergonho por isso, me chateia por me sentir um incômodo para as pessoas, uma preocupação a mais. Claro que eu já andei de ônibus, com minha vó e minha tia, naqueles passeios durante as férias, que íamos na Lapa, olhar as coisas, adorava aqueles momentos, sinto falta disso. Não tenho mais tempo nem para espirrar.
O fato é considerado um milagre para aqueles que me conhecem, tenho certeza que muitos devem ter achado, que nesse dia, as vacas tossiram, porque eu andar de ônibus é um típico momento de "nem que a vaca tussa". Mas elas tossiram baby, paguei os meus R$2,30 na passagem, passei pela catraca, procurei um lugar vazio e sentei. Acompanhei de perto o engarramento na Rótula do Abacaxi por causa das obras, e fui, na expectativa de quando desceria dele.
Mas enfim, aconteceu, peguei um ônibus para voltar para casa, já era noite, estava escurecendo. Desci no ponto, atravessei as duas pistas, ali, em frente à concessionária e fui criando coragem para subir aquela enorme ladeira, cheia de curvas, com algumas poucas pessoas andando e mal iluminada, mas eu tinha que subir! Fazer o que né?
Então, subi toda a "ladeira do capoteiro", praticamente correndo. As minhas pernas começaram a doer (culpa do meu sedentarismo), meu coração acelerou e chegou perto de pular pela boca. E, nesses tempos de calor, suei muito, acho que perdi um quilo (exagero!).
Uma das melhores coisas que eu senti na vida, foi quando avistei a esquina final, a que dá no shopping daqui da Vila Laura. Quando cheguei lá em cima, me senti vitoriosa! Sei lá, uma coisa boa me invadiu, um momento de "nossa, eu cresci", foi lindo! Só faltava eu andar mais um pouco, e descer aquela outra ladeira enorme, que me levaria ao prédio de minha vó.
Lá fui eu, mais tranquila e graciosa (nem sou pretensiosa), andando pela rua, e depois descendo a ladeira, fazendo rastro de suor pelo chão (brincadeira!), mas tudo bem, foi o meu momento. A minha pseudo-liberdade. Um acontecimento único para mim. Fiquei feliz, me transformei. Pode ser que eu não pegue mais ônibus, pode ser que eu ganhe na mega-sena, fique rica e compre um carro, mas esse dia do ônibus, eu não esqueço mais.


Nenhum comentário:

Postar um comentário