quarta-feira, 14 de abril de 2010

Meus sapatos molharam...

- Talvez eu seja como os sapatos que ficam embaixo da minha cama. Eles não estão velhos, mas hoje, estão molhados, e nem mesmo os meus pés eles podem aquecer. Choveu tanto - e ainda está chovendo - que alagou uma parte do meu quarto, e foi justamente embaixo da minha cama. Tá tudo molhado.

Tenho certeza, porém, que os meus sapatos molhados são menos de 1% dos problemas que as chuvas causaram hoje na cidade. Aliás, não só hoje, como sempre. Sempre chove, e Salvador vira um caos. A cidade do "verão o ano inteiro" sofre com as chuvas há muito tempo. É bem verdade porém, que a cada estação, as coisas só pioram: maior índice pluviométrico + maior quantidade de pessoas morando em lugares arriscados = tragédias anunciadas. A equação é bem simples de entender, mas muito complicada de resolver. Acredito que essa é bem mais difícil que as de logaritmos que tive "que aprender" na escola.
Devo confessar que quase nunca me deixo abalar por essas enormes tragédias que atingem o Brasil ou o mundo. Aquelas notícias que comovem sempre, quase nunca me convencem. Tá, não é bem assim. Eu acredito, mas não fico tão abalada assim.
Dessa vez foi diferente. Aquele morro que caiu no Rio de Janeiro me abalou muito. atingiu em cheio meu emocional e meus olhos enchem de lágrimas a cada reportagem que eu assisto. Consigo me transportar para a vida daquelas pessoas que perderam tudo: casas, móveis, dinheiro e o principal: familiares. É muito triste ter que acreditar que boa parte da população tem que se sujeitar a viver em lugares assim, sem nenhum tipo de segurança. Acreditar que a vida de cada um deles pode ser destruída na primeira chuva. Já li e reli em muitos jornais, que essas pessoas, são as que mais sofrem sempre, porque já vivem em condições precárias, e nesses momentos veem tudo ir por água abaixo (literalmente).
Fiquei triste mesmo com essa tragédia. E imaginar que as pessoas foram reduzidas a nada, ali, foi cobertas por um monte de lixo. Eu me pergunto então, elas eram consideradas o quê para terem sido "obrigadas" a viver naquele lugar? Animais? Ratos? Baratas? Cadê o senso de humanidade dos políticos para tirá-las dali ou invés de transformar o local em um quase-bairro? Asfaltar ruas e pintar casas não é o suficiente. Não é o suficiente também construir casas populares em locais indevidos não resolve.
Aqui em Salvador, as ruas alagaram, o trânsito ficou horrível como sempre. A Rótula do Abacaxi então, insuportável com as obras da Via Expressa. E para melhorar, os operários entraram em greve, ou seja, mais tempo para terminar a construção = mais tempo com engarrafamentos monstruosos. Muitos deslizamentos de terras, muitas pessoas desabrigadas, algumas mortes. A cidade também virou um caos.
Enfim, olhando ao meu redor, a chuva estragou muita coisa, mexeu com o meu emocional, muitas pessoas morreram, outras tantas estão desabrigadas e ninguém tem previsão de quando isso um dia vai parar. Quando é que vai chover e nada vai ser abalado? Acho que nunca mesmo. São tantos os fatores que estão envolvidos nessa questão: climáticos, geográficos, econômicos, educacionais, etc; que eu não acho justo culpar apenas os políticos. Aí então utilizo um clichê, super clichê: é preciso que cada um faça sua parte. Eu vou começar secando os meus sapatos, para que eu possa sair na rua e fazer o meu protesto.


Além do clima, a música que me inspirou a escrever hoje:


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