quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ladeira abaixo

Em seu discurso de posse, a presidente Dilma Rousseff afirmou que prefere "uma imprensa barulhenta ao silêncio das ditaduras". Pois bem, eis que a Bahia, gerida pelo governador-irmão do ex-presidente Lula, e que tem cinco baianos nos ministérios, parece não estar disposta a seguir essa recomendação. Traduzindo: nas duas últimas semanas, como já foi noticiado por aí, a imprensa não tem mais acesso direto e imediato aos dados sobre a violência no estado. Antes, era bem simples, só ligar para a Central de Telecomunicações das Polícias Civil e Militar (Centel) e solicitar as ocorrências para um dos atendentes. Em duas semanas tudo mudou. Primeiro, as informações deveriam ser passadas pela assessoria de comunicação da Centel. Depois, pela assessoria de comunicação da Secretaria de Segurança Pública (SSP). Agora, os dados se transformaram em um "boletim" no site da  SSP.
Na minha humilde opinião, acho ótimo que os órgãos públicos utilizem tecnologias ao seu favor, só que no tal boletim não estão todas as informações, detalhes, como as que podíamos pedir aos atendentes, mesmo que nos tratassem com mau humor, ou com falta de atenção. 
Engana-se quem pensa que essa censura às informações começou agora. Há tempos, as ocorrências estão sendo divulgadas com restrições. Na minha época de fazer ronda, lembro das poucas vezes que conseguia alguma informação. Muitas, só eram divulgadas no dia seguinte, o que transformava meu trabalho em algo descartável e desatualizado, o que não combina com o perfil de minha profissão, não é?
 Eu realmente não consigo acreditar que o motivo dessa suspensão de informações foi a veiculação de que em um fim de semana houve 30 homicídios. Os números sobre a violência no estado vêm sendo divulgados há meses, e os índices vêm só aumentando. Por que então, não assumir que isso é verdade? Por que acreditar que impedir a SSP de divulgar as informações vai ajudar em alguma coisa?
Vamos colocar na mesa as cartas desse jogo. Não é culpa da SSP os números estarem crescendo. Não é culpa só da polícia militar. Não é culpa só da desigualdade social. Não é culpa só da educação de má qualidade. A culpa não é só do governo atual. Não é culpa só da "herança maldita". São todos esses fatores juntos. Então, vamos amadurecer um pouco, Bahia? Vamos deixar de ser essa província que prefere esconder números embaixo do tapete e vender apenas a imagem de alegria aos turistas?

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