sábado, 13 de novembro de 2010

Metade foi tu que me deu

– Acordei hoje procurando palavras para lhe dizer, para fazer a homenagem devida. Mas ainda não encontrei algo que fosse mais claro do que "te amo". Meus pensamentos estão confusos, complicados e cheios de lembranças. Eu escolhi não lembrar das lágrimas de um ano atrás. Escolhi não lembrar do meu último adeus (provisório), dos olhos piedosos de todos que foram à sua despedida. Procurei lembrar do seu último sorriso, das suas últimas palavras felizes e tão lúcidas. "Vai assistir o jogo, vó? Vou sim, eu tô assistindo". Linda.
O jogo, o que era o futebol em sua vida, hein, Maria? Seu Bahia! Eu, que sempre fui Vitória (sabe Deus lá porque), nunca desrespeitei seu time, muito por ter você como torcedora. Lembro que no último jogo que teve enquanto ainda estava aqui, minha irmã lhe falou que ele havia ganhado e você ficou feliz. Hoje, ele está para subir para a Série A, acho que você deve estar acompanhando, em qualquer lugar que esteja. Aliás, eu tenho certeza disso. Linda.
Essa semana eu estava lembrando dos seus pés. Antes de dormir, estava cobrindo meus pés – coisa que eu quase nunca faço –  e lembrei das cócegas, era só tocar nos seus, que você ria, se transformava e dizia "para, menina!" rindo ainda. Linda.
Hoje é um dia inexplicável. Decidi não chorar e tentar sofrer menos, é quase impossível, mas estou quase conseguindo. Sinto a tristeza no ar, nos olhares, na conversa saudosista de minha tia. No aborrecimento repentino e sem motivos de minha vó, na minha acidez ao falar. É tudo um disfarce (dos piores) para enganar o sentimento.
Esta tarde, vendo o reflexo do céu azul nas minhas pernas quase transparentes lembrei das tardes quentes no quintal e do calor aliviado nos momentos em que estive ao seu lado na janela "para olhar o movimento da rua". Percebi o quanto eu fui crescendo ali: quando não alcançava a janela e meu queixo batia no mármore, quando meus braços se apoiavam na altura perfeita. E, quando, finalmente precisava me encurvar nela para desfrutar de sua companhia me contando das pessoas que subiam e desciam a ladeira, pedindo a sua bênção. "Essa é a mais nova de Eliane, é Mandinha", dizia aos que passavam por ali. Linda. Para mim ela continua ali, na janela vendo todo mundo passar. E eu no quintal aproveitando a curva que o vento faz ao passar.
E o nosso amor continua. De tudo que eu sei, mais da metade veio de você. Que passou para minha vó, que passou para minha mãe que passou para mim. Algumas outras vieram diretamente de você, de suas mãos, de suas comidas maravilhosas, de seus olhares, conselhos. Enfim, de seu cuidado na nossa infância, no nosso crescimento. No crescimento de todos nós que viemos de você e dos que não vieram também e foram se agregando à família. Mãe nata de coração grande, nunca soube de recusas de sua parte. É eterna para mim, vive intensa em meu coração e acesa na minha fé. Linda.
Existem milhões de palavras e sentimentos de lembranças para descrever, mas nada que eu diga aqui chegará perto do que eu estou realmente sentindo. Então, eu me calo e rezo. Esteja bem minha linda, eu sei que está nos abençoando, nos olhando e protegendo. Eu te amo e isso é o que eu espero que você nunca esqueça quando voltar.

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