quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Conversa de foca

*Antes de mais nada, que fique bem claro aos que não são do jornalismo, que foca é jornalista iniciante, ok?

– Caminho para os oito meses e ando bastante enjoada. Diria que estou em um dos momentos mais difíceis e arriscados, os sete meses. Embora pareça uma gestação, e digamos que seja mesmo, aos nove meses ainda não será o momento para dar a luz a esta nova criança. Este ser, no caso, serei eu mesma, daqui a um tempo: uma boa jornalista. Há quem acredite que ser jornalista é bem fácil. Seria bastante clichê falar que a profissão não corresponde a essa falácia e que não traz nenhum glamour. Esse discurso é fácil de ouvir de qualquer jornalista por aí, do pior ao mais bem-sucedido. Não, eu não quero falar disso.
Da minha redação sobre a mulher, que me fez passar no vestibular para jornalismo há dois anos, até hoje muitas coisas mudaram. Até porque redação de vestibular é um fórmula. Introdução + desenvolvimento 1 (primeiro argumento) + desenvolvimento 2 (segundo argumento) + conclusão. Tudo bem que no jornalismo a gente também deve seguir o modelo da pirâmide invertida, o lead e tal. Mas é diferente. Em alguns casos, dá para fazer um texto leve, bacana e que dê vontade de ler. Aí está o meu grande drama no último mês. Escrever um texto legal, que não seja óbvio e que não tenha um início quadrado. Não é fácil. 
Escrever sempre foi meu grande prazer, minha grande torta de chocolate com morango. Mas nos últimos tempos parece que o chocolate está hidrogenado e o morango, bem azedinho. Desde que mudei de editoria, tenho me esforçando ainda mais para escrever bem. Tem gente que diz que eu escrevo bem, que sei me expressar e tal, mas daí para que eu ache o mesmo é um abismo. Bem grande, daqueles que a gente não vê o que tem lá embaixo. 
Enfim, tenho maneiras diferentes para fazer meu lead. Depois de algum tempo no jornal, consegui tirar o padrão de assessoria que eu tinha e o texto ficou um pouco melhor, mas ainda quadrado. Às vezes, eu quero deixar mais leve, extrapolo e a matéria fica parecendo um diário. Apago tudo e começo de novo. E de novo e de novo. Infelizmente, nas últimas semanas eu não tive tanto tempo para ficar apagando e escrevendo de novo. Meus deadlines estavam devidamente misturados e curtíssimos. Resultado: textos sem graça. Melhor dizendo: previsíveis. Eu não gosto de ser previsível. Eu não gosto de começar uma matéria de um assunto que todo mundo sabe, do mesmo jeito que todo mundo escreve.
É aí que entra a minha paixão pelo jornalismo. A minha crença que me leva a buscar algo legal para mostrar às pessoas. Algo que seja pouco divulgado. Mas quando isso é meio que impossível – se temos que falar da volta do feriadão, ou que os itens da ceia de Natal estão mais caros, como todo ano –, busco um jeito diferente de fazê-lo. Ter uma boa história para contar. Jornalismo é contar histórias. Os fatos de um jeito que nós temos que construir. Lapidar e deixá-lo de um jeito compreensível para todo mundo.
A minha conversa está bem coisa de foca mesmo. Com toda essa utopia de fazer "jornalismo de verdade" e conseguir transformar alguma coisa nesse mundo com ele. É porque ele me encantou. Esse ser que cresce em mim desde que passei no vestibular é um grande amor. Quase igual ao materno. É o jornalismo brotando em mim, e o ser que vai nascer, sou eu mesma, só que jornalista. Enquanto ele não nasce totalmente, eu vou cuidando dele e ele, de mim.



2 comentários:

  1. É por essas e outras que tudo com tesão é mais gostoso. :)

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  2. Me conforta saber, que a melhor aluna da turma também senti essas coisas.

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