domingo, 29 de novembro de 2009

O que será do cágado?

- Sinto saudades. Parece que foi ontem e ao mesmo tempo, parece que já tem uma eternidade. No último mês, fui tomada por diversas sensações e sentimentos diferentes. Não sei descrevê-los. Sei que sinto saudades. Do que eu já fui, do que eu pensei que seria, dos momentos que vivi, e agora, principalmente, sinto falta dela, que voltou para casa, está com sua xará, Nossa Senhora.
Passado não se muda, isso é fato. Passado não se esquece, se camufla. Não tenho interesse em seguir nenhuma dessas opções, ao contrário, depois da perda, me apeguei tanto às lembranças que não consigo acreditar no que aconteceu.
Precisava escrever para ver se conseguia encarar de novo a realidade triste e inexplicável, mas ainda, realidade. Não consigo me prender aos seus últimos momentos, em que ao mesmo tempo teve todos ao seu lado, por vezes ficava na solidão, mesmo que ainda estivesse protegida por uma energia inimaginável que envolve esses momentos de passagem.
No rol das lembranças, um desfile de sentimentos, objetos pessoais, o seu amor e o seu carinho, e até mesmo nós, que temos um pedacinho dela  nos genes.
E a vontade de ficar com algo que foi seu não é a demonstração de algum tipo de sentimento ruim, interesseiro, é para simplesmente ter uma lembrança que se possa tocar, e senti-la mais perto de alguma forma...
A única lembrança viva que existe, além de nós, é o cágado. O que será dele daqui para frente? Quem vai cuidar dele? Cadê a coragem de fazer isso, e mantê-la tão próxima, tão viva, e tão distante assim? É uma missão quase impossível, é muita dor, preservar essa lembrança sem lembrar de todo o seu amor, seu cuidado, e não sentir vontade de chorar.
Sinto saudades. Até mesmo de suas palavras, de suas orações, de sua fé, rezando todos os dias por nós, lembrando sempre de agradecer por todas as graças alcançadas, ou até mesmo pelas coisas que não desejamos, mas por sempre acreditar que Deus escreve certo.
Queria apenas ouvir mais uma vez, sua voz dizendo "é Mandinha", quando eu perguntava quem estava ali na sua frente. Queria ficar eternamente segurando a sua mão, o tempo que fosse necessário para que não se sentisse sozinha e pudesse perceber que estou sempre ali, ao seu lado e que eu não deixaria que te fizessem mal algum.
Sinto saudades.

Um comentário:

  1. Amanda, que bela crônica, na qual você explicita seus melhores momentos. Você é uma excelente cronista!!!

    ResponderExcluir